quarta-feira, 30 de junho de 2010

Achado de um dia desses.


Eu ando sob a grama.
Meus pés descalços sentem o frio
e a delícia que é
andar no chão. no mato. na terra.
eu penso na minha mãe.
Poderia ter sido mais generosa com ela.
Ou ela que realizou o seu papel comigo?
e eu só aceitei.
pensando na minha construção.
e em como ser tão boa quanto ela
nessa atribuição.
Olho no canto do quintal e
vejo uma bituca de cigarro
que algum porco, sem educação
e sem respeito pelo do que é dos outros
jogou.
Lembro do fogo.
E das fotos queimadas ontem.
Das lembranças apagadas, sim, apagadas.
Porque não recordo mais
aquilo que não me acalenta.
Ai, a sujeira desse mundo!
Tão diferente do que vejo no quintal.
As plantas, flores, água, os passarinhos
que passam todos os dias no mesmo horário.
E o frio.
Que reina na casa de quem gosta de calor.
E o céu alaranjado, meio rosa, um pouco azul.
no fim da tarde.
E a noite que vem mais cedo.
E o amor que quer entrar.
Não sei se devo.

Saudade de São Paulo!


E eu que não pensei que iria sentir... agora escuto Sampa com nostalgia.
Pensando nos bares, cafés, restaurantes, pessoas, teatros, cinemas, shoppings, pessoas, praças, ruas, prédios, pessoas, livrarias, parques, pessoas... casas e lugares e lugares e lugares que gostaria de estar, de visitar, de passear... e pessoas que gostaria de encontrar, conversar, dançar, dividir, ouvir, ver, sentir... admirar, admirar a mudança, o tempo que passa mais rápido, tudo que muda em um segundo e que, no fundo, continua o mesmo.
Ahhh, São Paulo, faz-me muita falta!



Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa
(Brilhante Caetano Veloso)

sábado, 26 de junho de 2010

Adaptação


O que restava da fogueira eram brasas. Não havia ninguém em suas barracas. E os meus olhos não estavam abertos, por causa da luz do sol e do sono crônico. Eu sentia a sua falta, não desejando a sua presença, só notando a sua ausência como quem sente os dias que já não são mais seus, a morte, o adeus sem volta. Eu estava passando por novas experiências, amadurecendo, crescendo, vivendo situações das quais me lembraria com orgulho. Ouvi um barulho e alguém trazendo flores do campo e uns frutos para degustarmos. Aqueles cinco dias provaram-me que, realmente, o impossível é questão de opinião. Aquela paisagem surreal. Aquele sentimento único. Sentei para a meditação da manhã e senti o ar entrando e saindo dos meus pulmões. Meus sentidos se aguçaram. Pude ouvir as batidas do meu coração. Lembrei da dança. Esvaziei minha mente. ... Senti o vento bagunçando os meus cabelos e fazendo as folhas das árvores cantarem. Acordei.

Com a irmã mais nova.


Plantar.
Uma semente.
De flor, fruta, verdura, legume
esperança, amor, carinho, verdade.

Plantar para
cultivar o que desejamos colher.

Para esperarmos
o desabrochar
do que nos encherá de orgulho.

Para nos encher
de paz. E certeza
que podemos.
Acreditar.
Que somos responsáveis
por aquilo que semeamos
E não podemos abater.

Plantar. Acreditar. Permitir
nos envolvermos pela terra que nos acolhe, nutre e embeleza.
Crescer, viver, mudar, embelezar.
Ser.

Recuperado


Estava chovendo. As janelas estavam abertas. Acordei asssutada com o coração batendo horrores. Eu não lembro direito. Mas sonhei com você. O ar... O ar... Estava sem. Minhas pernas eram suas. Você me torturava. Nos beijávamos. Você sorria. Eu te odiei. Quis fugir. Viajei. Você me encontrou. Me matou. E eu sobrevivi. E no sonho, nos encontrávamos distantes. Por ilusão. Eu não aguentei e chorei. Acordei num sobressalto. E agradeci a realidade. O nunca mais.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Fuga!


e eu sinto vontade de escrever.
Ai, meu Deus, me ajuda?!
Por que essas coisas acontecem comigo?
e eu me vejo menina, escondida debaixo da cama,
chorando,
rezando,
pq eu não entendo a perseguição;
não, eu não entendo.
Sem me colocar no papel de vítima,
eu busco as respostas.
E cresço.
Eu fujo inconscientemente.
Fujo de alguma coisa que atormenta a minha mente
sem que eu perceba.
solidão?
acredito não ser.
E depois de voltas
e voltas
e voltas
ao redor de mim mesma,
descubro que não me encontrei.
que as respostas foram úteis em momentos isolados.
e que a verdade sobre o meu ser
não apareceria em breve.
Eu fujo
e esqueço aquilo que ficou pra trás.
aquilo que já me fez sorrir e chorar.
o que me fez mulher.
eu corro sem notar que as minhas pernas se movem.
os meus joelhos doem e
eu não sei a razão.
o andar é apressado,
mas eu não sei para onde estou indo.
e, de repente, eu me encontro em seus braços.
um amor repentino.
um desejo calado.
e já não tem mais como fugir.
mesmo que a minha mente voe para outro lugar
o paraíso é ao seu lado.
e o desejo de partir não é suficiente
para desancorar o
meu coração.