sábado, 28 de novembro de 2009

Sábado com chuva.


Desliguei o telefone.
Escolhera o melhor lugar para a conversa final.
Até pensei que não teria um cantinho silencioso para uma conversa tão séria, mas achei logo.
Ele chegou logo. Sentia o que estava para acontecer. Estava tenso.
Durante a conversa, ele ficou em silêncio... Compreendia-me.
Evidente que eu chorei. Não muito. Nada de soluços. Apenas lágrimas. Quis passar segurança na minha decisão.
A rodoviária era muito bonita, mas não era muito movimentada.
Eu não sei o que aconteceu...
Não lembro.
Acho que foi um... O meu cérebro fez eu esquecer. Acredito que é para aliviar a dor e a culpa.
Realmente esqueci o seu rosto e o modo como caminhava para a saída da rodoviária.
Eu sei que acordei do meu torpor ao perceber que havia chegado um ônibus e muitos passageiros desciam no ponto final.
Nesse momento, percebi que as histórias na nossa vida se assemelham muito com o transporte, principalmente o ônibus.
As interpretações ficam a cargo de vocês, porque já é tarde e o meu coração, embora certo de sua escolha, encontra-se partido, ferido, triste, chorando, sangrando...
Levantei, fui em direção ao estacionamento, entrei no carro e comecei a chorar, mas segui o meu caminho.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Observação.


O primeiro trago.
Que porra de emprego é esse que eu tenho que ficar sentado o dia inteiro?

Segundo trago.
Se faz o quê em um intervalo de dez minutos, quinze no máximo?

Mais um trago.
O que eu fiz ou não fiz para estar aqui?
Poderia ser tanta coisa... Ganhar tanto dinheiro sem me sacrificar do jeito que me sacrifico.
É capaz de trabalhar no Natal ainda por cima. Mesmo ninguém saindo de casa e nem precisando de ônibus.

Outro trago.
Será que a Cleusa conseguiu compra o fogão novo? Mais tarde eu ligo pra ela...
E o Evandro, quando vai me pagar, hein?! Se eu tivesse, até deixava pra lá, mas duzentos reais eu preciso, né?! Ainda mais agora, chegando o Natal.

Mais um trago.
Não tem nem mais o que pensar.
Sabe, ainda bem que são só dez minutos, senão eu enlouqueceria pensando na vida.

E mais um trago.
Preciso ver se o próximo jogo do Corinthians é aqui no Pacaembu. Se for, eu vou tentar ir, nem que eu falte no serviço, saia mais cedo, sei lá...

Outro trago.
Ca-ra-cas! Aquela ali é boa, viu?!
Ainda tem cigarro.
A última tragada.
Já preciso ir.
Mais uma viagem de quarenta minutos. Para o mesmo lugar, as mesmas pessoas, as mesmas ruas; de vez em quando até os mesmo passageiros; dependendo do horário, os mesmos trouxas dirigindo.

Cigarro ao chão.
Vamos lá!, que ainda tem cineminha em casa mais de noite.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"Experimente a Vida"


Ingresso pra Exxxperience: R$80 reais.
Valor da Van: R$20 reais.
Dançar na chuva ao som dos melhores Dj's e com os amigos: Não tem preço!


Tudo Muito Bom!!!
;***

sábado, 7 de novembro de 2009


Ela fechou o guarda-chuva. Era só uma nuvem perigosa. Dava para arriscar alguns metros desprotegida. Ela estava feliz. Estava em um momento da sua vida em que tudo estava dando certo, caminhando para um desfecho satisfatório. Seus dias eram extremamente ocupados e a sua ansiedade era fator construtivo e determinante para a realização dos seus sonhos. Sim, ela estava realizando os seus desejos. O seu estado de felicidade aproximava-se dos noventa por cento, se é que sentimentos possam ser mensurados. A lembrança dele quase inexistia. As que teimavam em dar suas caras ocorriam em momentos... corriqueiros como esse. Mas ela só pensava: " O que será que ele está fazendo agora?", "Será que pensa em mim?". E seguia seu caminho. Sendo surpreendida apenas na sua casa com os fantasmas que mostravam o que acontecia naquele lugar um ano antes. E continuava seguindo, já que não possuía espaço na sua vida, naquele momento e nos próximos três anos, para alguém, muito menos para ele; e, também, porque já iria fazer um ano e as memórias se esgotariam, não as surpreenderiam e seriam substituídas.

Ele desligou o computador, juntou suas coisas e, simpático como sempre, despediu-se de todos na empresa. Com o término do namoro, resolvera voltar para a cidade pequena do interior do Estado. Ele sempre gostou de uma vida mais simples e suas ambições não eram maior do que levar um vida tranquila, casando e tendo filhos. Ele também estava feliz. Saía com os amigos, já se relacionara rapidamente com algumas mulheres, realizava seus esportes, viajava e ainda sobrava tempo para sonhar com o retorno da sua amada. Ás vezes, ele resolvia beber quando estava pensando nela; outras, saía de casa; ligava para pessoas conhecidas; tentava, de todas as formas, esquecê-la. Mas as memórias são traiçoeiras, intensas e estavam latentes naquele ser ainda apaixonado, que, como todo otimista, acreditava em um reencontro cinematográfico e um final feliz.

Ele abriu a porta do carro e foi impossível não lembrar de todas as vezes em que olhava para o banco do passageiro e encontrava uma garota que aparentava ser mais nova, já se arrumando no espelho, olhava para ele e falava: "Vamos?". E ele respondeu em voz alta para si mesmo: "Vamos, meu amor. Vamos ver para onde a vida nos leva!"

Ela chegou em sua casa, tirou os sapatos, as roupas, se jogou na cama e dormiu.

domingo, 1 de novembro de 2009

Primeiro dia do mês.


O que sobrou de você vem à tona em um sábado de calor como esse.
Eu entro na piscina e espero o telefone tocar ou alguém bater na porta, então teria que interromper minha sessão de relaxamento pra atendê-lo.
Você reclamaria do trabalho.
E eu teria que estar impecável para...
O que sobrou de você aparece nessa lembrança,
na qual sairíamos de moto, em uma noite de lua cheia e muito calor,
para fazermos amor.
E no dia seguinte.
As coisas seriam parecidas com o anterior.
O que sobrou de você já está de partida.
Vai embora com a estação.
Pode ser que reste algum suspiro,
um fragmento de memória dos nossos natais e passagens de ano juntos.
Não, com certeza vai fugir logo.
Tudo muito intenso.
Muitas brigas.
E o que sobrará de você vai ficar guardado em alguma resposta futura.
Somente duas.