quinta-feira, 27 de maio de 2010

Contrição


Por um momento.
Um instante, tão repentino quanto o flash de uma câmera fotográfica.

Por esse segundo, eu quis tomar uma atitude diferente.

Por esse segundo, eu quis me deixar levar pelos seus braços.

Eu quis correr para sua cama ao invés de correr para a estação de trem.

Por esse segundo, eu quis dizer sim a você.

Eu suportaria até quando você se apaixonasse por outra. Porque eu sei que eu o teria novamente,
que você voltaria para mim.
Eu queria ter visualizado os meses seguintes. A decepção.
Eu queria ter preferido você.

Eu queria ter aberto mão dele.
Eu apostaria de novo aquilo que não levamos a sério.

Hoje seria diferente. Talvez estivéssemos em outro lugar.
E eu o ouviria cantar só pra mim.

Ah, se eu soubesse aquele dia o que sei hoje...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Como em um sonho.


E, de repente, se chora por tudo aquilo que não se quis derramar uma lágrima; por todas as situações nas quais se fingiu ser imune; por todos os gritos calados nas dores que se julgava insuportáveis; por todas as feridas mal curadas; por todos os amores fracassados e os desejos não realizados.
De repente você sente o coração quebrar - como aquela peça de cristal que você guardava há décadas em uma câmara especial, guardada do mundo, da realidade, da vida sem máscaras e sem sonhos -, ferindo todos os outros órgãos ao redor, espalhando dor, espalhando dor.

E, de repente, eu me encontro no confessionário da igreja. Escondida de todos. Chorando como nunca. Conformada, no fundo. Pensando em escrever sobre todos esses sentimentos que me acometem nesse momento, todos os sentimentos que passaram por mim nesse tempo, toda a transformação pela qual eu passei.
Eu prefiro estar escondida quando meus olhos secarem. Os soluços passarem. Eu nem preciso falar. Já dispensei um padre.
Essa mudança requer tempo.
Eu sei que o meu vestido está um pouco sujo. E a maquiagem está borrada. É impossível manter-se alinhada, estar de outra maneira.
Eu queria o poder de transportar-me para lugares intangíveis, invisíveis, inconcebíveis. Como... Morrer um pouquinho.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Naqueles dias de tensão...


Ele havia saído do curso. Estava indo almoçar. Ao sair na rua, seus olhos demoraram um tempo a se acostumar com o tanto de pessoas e carros transitando. Depois de alguns minutos andando em busca de um lugar para almoçar, teve uma visão surpreendente: ela! Ela estava de costas, mas seus cabelos e seu andar eram inconfundíveis. Estava vestindo um vestido verde-musgo com delicadas mangas, uma bota de salto pequeno de cor bege claro, carregava uma bolsa preta e um casaco marrom claro no braço esquerdo. Seus cabelos estavam soltos. A cor do vestido contrastava com sua pele branquinha. Ela parou em frente à faixa de pedestre, esperando o sinal fechar, olhou na direção em que ele estava, mas não o viu. Ah, naquele momento ele percebeu que ainda a amava! Mesmo tendo passado doze anos após o rompimento. Ele não sabia se a abordava ou só se continuava admirando sua perfeição. Sua mente viajou e o que ele desejava apenas era que ela estivesse com aquele macacão que ele odiava, com as unhas sem fazer e o cabelo meio desgrenhado tomando coca-cola e comendo pizza no café-da-manhã. Ah, como ele a amava! E como ela estava diferente. Mas ainda permanecia aquele... Aquele ar angelical. O sinal fechou para os carros e ela atravessou a faixa de pedestre. Foi nesse instante que ele conseguiu ver algo que cintilava em sua mão direita, mais precisamente no dedo anelar. Uma aliança dourada. Aquela que ela não havia aceitado há treze anos atrás. Ficou cego. Então, ele notou que a tinha perdido. Olhou novamente, procurou e a viu entrando em um restaurante de alta gastronomia. Era um pouco longe. Ele não a viu mais.

quarta-feira, 5 de maio de 2010


Silêncio. Ausência de palavras.
Aceitação.
Compreensão.
Compaixão.

Concentração.

Auto-conhecimento.
Análise.
Conhecimento do outro.

Descoberta.
Surpresa.
Segredos.

Sintonia.
Confiança.
Cumplicidade.

Respeito, acima de tudo.

Imaginação.
Ilusão.
Fim. Nunca começo.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Caminhada vespertina


Não necessariamente
um velho é experiente
um adolescente é inconsequente
e uma criança é inocente.


Não necessariamente
é cego quem ama
é surdo aquele que não quer ouvir
sofremos na dor.

O que a mídia passa
nem sempre é verdade
As nossas escolhas nem sempre são equivocadas.
E os amores
são todos mal resolvidos.

Irmãos nem sempre são amigos
E amigos não substitui a família.

Você não precisa de uma religião.
Mas precisa acreditar em algo.
Não necessariamente invisível.
Mas transcendente.

Os seus conceitos podem ser flexíveis.
O seu amor deve!

Porque um mendigo, não necessariamente,
é um acomodado.
E uma celebridade nem sempre tem sucesso.

O tempo passa rápido para alguns
e, para outros, se arrasta.
A vida atropela os alienados.
E dá as mãos aos visionários.