sábado, 7 de novembro de 2009


Ela fechou o guarda-chuva. Era só uma nuvem perigosa. Dava para arriscar alguns metros desprotegida. Ela estava feliz. Estava em um momento da sua vida em que tudo estava dando certo, caminhando para um desfecho satisfatório. Seus dias eram extremamente ocupados e a sua ansiedade era fator construtivo e determinante para a realização dos seus sonhos. Sim, ela estava realizando os seus desejos. O seu estado de felicidade aproximava-se dos noventa por cento, se é que sentimentos possam ser mensurados. A lembrança dele quase inexistia. As que teimavam em dar suas caras ocorriam em momentos... corriqueiros como esse. Mas ela só pensava: " O que será que ele está fazendo agora?", "Será que pensa em mim?". E seguia seu caminho. Sendo surpreendida apenas na sua casa com os fantasmas que mostravam o que acontecia naquele lugar um ano antes. E continuava seguindo, já que não possuía espaço na sua vida, naquele momento e nos próximos três anos, para alguém, muito menos para ele; e, também, porque já iria fazer um ano e as memórias se esgotariam, não as surpreenderiam e seriam substituídas.

Ele desligou o computador, juntou suas coisas e, simpático como sempre, despediu-se de todos na empresa. Com o término do namoro, resolvera voltar para a cidade pequena do interior do Estado. Ele sempre gostou de uma vida mais simples e suas ambições não eram maior do que levar um vida tranquila, casando e tendo filhos. Ele também estava feliz. Saía com os amigos, já se relacionara rapidamente com algumas mulheres, realizava seus esportes, viajava e ainda sobrava tempo para sonhar com o retorno da sua amada. Ás vezes, ele resolvia beber quando estava pensando nela; outras, saía de casa; ligava para pessoas conhecidas; tentava, de todas as formas, esquecê-la. Mas as memórias são traiçoeiras, intensas e estavam latentes naquele ser ainda apaixonado, que, como todo otimista, acreditava em um reencontro cinematográfico e um final feliz.

Ele abriu a porta do carro e foi impossível não lembrar de todas as vezes em que olhava para o banco do passageiro e encontrava uma garota que aparentava ser mais nova, já se arrumando no espelho, olhava para ele e falava: "Vamos?". E ele respondeu em voz alta para si mesmo: "Vamos, meu amor. Vamos ver para onde a vida nos leva!"

Ela chegou em sua casa, tirou os sapatos, as roupas, se jogou na cama e dormiu.

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