domingo, 25 de abril de 2010

Feriado


Era o fim de uma história.

Era o início de uma lenda de amor.

A história de uma mulher que esperou tranquilamente pelo amor da sua vida até o dia de sua morte.

A lenda de uma guerreira que superou o ciúme, a inveja, a solidão, os preconceitos e o orgulho.

Depois daquela tarde em que ele suplicara: "Espere por mim? É só você quem eu amo e quero nessa vida!", essa doce senhora sentava todas as tardes para ver, da sua varanda, o sol se pondo no mar.

Aquelas luzes, cores e sensações a fortaleciam. Ela se renovava a cada pôr-do-sol acompanhado de uma xícara de chá ou capuccino nas tardes mais frias e suco de laranja nas mais quentes. Ah, tinha também uns sequilhos ou bolachinhas de goiabada. A mesa branca de ferro e as cadeira sempre estavam na mesma posição. A única coisa que modificou com o tempo fora a árvore que havia crecido e já poderia atrapalhar a visão do seu eterno-potencial-acompanhante do espetáculo mais lindo do universo.

Ela tinha noventa e seis anos no dia em que faleceu. E vinte e oito no dia em que seu amor pediu-lhe paciência. O curioso dessa personalidade era a confiança, a certeza que ela possuía em uma amanhã glorioso. Ela não se martirizava nem sofria. Sim, seu coração era torturado a cada dia que passava e ela não recebia o retorno esperado. Doía muito. Mas nem por isso ela chorava. Viveu todos os dias unicamente. Viajou. Estudou. Trabalhou. Saiu com outros homens para dançar, jantar, passear, conversar, mas nunca permitiu um beijo nem o entrelaçar das mãos. Sentiu vontade de ter filhos e adotou as crianças das empregadas. Investiu no futuro delas e recebeu muito amor, carinho e gratidão em troca. Isso a ajudava também. Em nenhum momento ela ligou para ele, mandou cartas ou qualquer coisa do tipo. Sua família se revoltava contra ela e, principalmente, contra ele.

Depois de mais um espetáculo de luzes, cores e sensações, foi anunciado que ela tinha uma visita. Vindo em uma cadeira de rodas, com três anos a menos que ela, mas aparentando mais, um senhor que carregava no semblante a felicidade e o arrependimento lhe disse: "Eu voltei!". Ela, sentada ainda na cadeira, segurou sua mão, olhou em seus olhos e falou: "Muito obrigada por ter me proporcionado tanta felicidade!". Trocaram um demorado beijo no rosto. Ela deitou em seu colo e... descansou em paz.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Lindo, lindo Noh! Parabéns, esses poemas merecem ser publicados...siga em frente, invista!!! :D, pois concerteza vc tem um grande futuro pela frente!td de bom querida escritora: Norma Ricomine ;) . . beijinhos, fica com Deus**

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